Hoje sugiro esta linda composição, poética e musical, de Toquinho e Vinicius de
Moraes que objetifica as inquietações do homem- comum frente ao cotidiano e ao
almejo de um futuro esperançoso, de uma saída. Trata-se de uma parábola: Por
mais que não tenhamos os desejos concretizados temos a nossa vida, própria, única
e intransferível. O violão, neste caso, é uma metáfora de nós mesmos. Mensagem
de esperança e humanidade.
Ontem, ao ler a noticia do exílio do deputado federal Jean Wyllys alegando ameaças à sua vida, ao seu
corpo (e não venham alegar que foi autoexílio, tenham empatia pela dor e pela
humanidade alheia!) me recordei desta musica e, ao apreciá-la com os olhos
marejados, pensei no quanto urge a necessidade de lutarmos para manter nossa preciosa identidade e o protagonismo de nossas
próprias vidas. Jamais pensei que, vivendo num pais "livre" e numa modernidade do século XXI tal preocupação me inquietaria. Claro que entendo que tais violências não são novidades, mas a incitação ao ódio e estigmatização que acomete nossa sociedade, muitas baseadas em notícias falsas, junto com um discurso de parte das pessoas que relativizam as mesmas, me assusta! A perseguição amedronta professores, políticos, artistas e qualquer pessoa que tende a ter um pensamento um tanto mais crítico, quem dirá progressista. Temos medo da bala que tanto
defendem que tenhamos em casa para "autodefesa" (sociedade BangBang). E medo também de ser quem se é, com tanta homofobia
e muito sangue LGBTQ+ nos noticiários . Vá Jean, leve seu violão e não se cale: Componha novas lindas musicas e volte logo!
Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?
Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão
Composição: Toquinho / Vinícius de Moraes
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