quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Afastou.
Primeiro o sofá,
depois a sujeira e o amor.
Por fim, afastada foi a amizade.
Viu-se no canto, tremendamente afastado.
Resta acatar.

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Sentimentos

Mais uma vez cá estou
Apenas eu e eu mesmo
juntando tudo que restou
Um fim em mim mesmo

Sinto muito


sexta-feira, 5 de abril de 2019

Glauber vive: Resistir para não se negar

Segue abaixo uma brilhante carta que encontrei no site do Instituo Moreira Salles (https://www.correioims.com.br/carta/resistir-para-nao-se-negar), enviada por Glauber Rocha para Jomar Muniz de Brito, dois anos após o golpe militar, assim, portanto, em um ambiente de efervescência politica e social sob um constante medo do futuro próximo, qual seria.
Como muito bem me orientou o Dr. Volmir Cardoso Pereira é necessário cautela na associação entre o Glauber e a Ditadura militar, pois, retornando do exílio, ele publicamente apoiou o General Ernesto Geisel no seu tempo do regime. Como se deu tal apoio é papo de outra conversa. 
Focamos aqui, no caráter poético e engajado da carta.

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Rio de Janeiro, 1966
Querido Jomard,
Estive aqui folheando lentamente o teu livro[1] e lhe asseguro que vou ler com o maior interesse, porque já vi que você fez um estudo inteli­gentíssimo sobre nossa Cultura! e sobretudo porque descobri, num relance, que os autores citados por você, revistos e essencializados! dão mesmo uma Visão brasileira, complexa, contraditoriamente subdesenvolvida — e tudo assim continua mesmo depois do Golpe, quando nós nos vimos traídos, quando não sabemos bem quem e como surgiu esta nova época, quando a outra era tão promissora. O quanto aprendemos, eis o vero.
Sua carta, suas notícias, tudo isto é muito bom; preocupei-me muito contigo, não sabia onde estavas e só agora soube da prisão[2] e que outra vez estavas livre e trabalhando; foi tão estranho nosso último encontro, você ficou num grande silêncio realmente, a minha casa desmontada, tive a im­pressão de que tínhamos envelhecido e que, pelo menos eu, já estava sofrendo da antonionesca moléstia da incomunicabilidade. Depois da sua vi­sita eu viajei com Deus e o diabo…,[3] veio a queda de Jango, eu voltei com tudo mudado e as pessoas dispersas, desmoralizadas, tristes. E eu fui acometido da mais brutal crise de toda minha vida: no momento em que assumi uma profunda visão dos problemas políticos acumulei uma total desilusão sobre os sentimentos — e uma coisa ficando na dependência da outra me levou a tamanha fossa, como se diz na ipanêmica gíria, que pensei em emigrar até para Hollywood, até pensei inclusive em me demitir da terra e dos ofícios e lhe confesso que não estou ainda bastante curado — ando cheio de decep­ções, de muitas dívidas, de um cinema ingrato, de tudo na estaca zero de­pois de tantos anos de luta, da Paloma crescendo sem ter direito onde mo­rar, de minha mãe cada vez mais nervosa, da loucura que domina o asfalto, do individualismo hipócrita coletivo do carioca, da vigarice intelectual, da parada no sucesso das letras e artes, do esquerdismo visceral e bossal, do direitismo monstruoso e corrupto, das migalhas comunistas que muitos co­meram sem saber por quê, da confusão tão primária entre alienação e participação e da miséria de não ter dinheiro, de ter que resistir para não se ne­gar, de ter que ir levando, pensando e sofrendo e a cada instante querendo morrer e ser então assaltado pela esperança, pelos deveres, pelos processos e pela responsabilidade!
Posso lhe dizer que nada mais lhe digo além disto: que tua carta me emocionou e a única coisa boa deste filme é sair na hora e vingar as pessoas e responder à brutalidade — mas o povo não entende, o povo vaia e ape­dreja, e eu fiz para o povo — imagine que mito besta é o povo. A gente en­velhece, caríssimo, descobrindo-se amargo e querendo a mesma paz da paz do mineiro Drummond, e quer emigrar para a Flórida ou para as ruínas de Roma, ficar tomando sol e ganhando dinheiro fácil.
O que vai por aí neste distante Pernambuco do Recife? Como aguentas a província brutalizada, a lama do subdesenvolvimento, o feijão, o angu, as ve­lhas lotações, as estradas sujas, as ruas esburacadas, as moças sonhadoramente ansiosas na longínqua maquilagem, a brutalidade adolescente dos rapazes, os ve­lhos latifundiários, o arrivismo, os jovens poetas sinceramente dispostos a tudo salvar? Ah, meu querido, como tens mais resistência do que eu, tens a divina paciência para o magistério, a calma sacerdotal dos justos e dos puros! — eu não suportaria ver os tanques, as bandeiras, as flores pátrias, nada.
Como você vê, estou amargo e gongórico.
Aqui te deixo, espero uma carta sua, que poderei responder ou não brevemente. Mas escreve falando de você e de tua vida.
Um abraço fraternal do seu amigo
Glauber
Glauber Rocha. Cartas ao mundo. Organização de Ivana Bentes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, pp. 267-269.
[1] N.E.: Glauber refere-se ao livro Do Modernismo à Bossa Nova, Ed. Civilização Brasileira, 1966, que prefaciou.[2] N.E.: Jomard foi preso com a equipe do professor Paulo Freire, em 1964.[3] N.S.: Deus e o diabo na terra do sol é filme de 1964, dirigido por Glauber Rocha. Foi indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes.





terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Mágoa, má água.


Grande saco d'água
que tanto  mija e caga.
Por tempo só divaga,
Homem

Com a coroa se destaca.
Tirano, lambe a faca
Ergue bem a estaca
E todos somem

Mas tem sangue de barata,
logo acaba a bravata
se mostra o psicopata.
Suprimem

E o povo assiste a saga
não adianta rogar praga
o tempo se pervaga
Consumem



A face da guerra - Salvador dali (1940)


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Contar

O homem acorda, levanta, saca a arma e vai trabalhar. É capitão. Se chegar, bem. Se não , que se danem. Bala para todo lado menos para as crianças: As protegei dos pedófilos, dos professores e dos homens-de-mau, pois os de-bem estão armados. Não brigue no transito senão o pipoco vai rolar. Que o almoço esteja bom. Que o colega não implique. Que o veado não rebole na rua. Que a puta fique quieta, onde já se viu puta falar. Maconheiro tem que morrer. Depois tem  o culto, com a arma na cintura, e ,mais tarde ,no dormitório dos justos, se prepara para dormir. Dá uma trepadinha, agora com a mulher, sem calibre, ejaculação  precoce porem satisfeito,  confere, vai que precisa: deixa a arma na gaveta mas com a bala no pente, e o pente na pistola. Vai ao quarto da princesa: "Boa noite minha joia, papai te protege dos fantasmas". De volta ao repouso, até amanha bela escravesposa: "amor". Durmam com Deus mas em alerta e com a mão na direção da arma: Vai que a cerca, o cachorro, a policia, o estado, a justiça, a educação, a saúde, a moradia ou o alarme não funcione!. Sonhou com comunistas.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Pensamentos da superfície.



Na imensidão do espaço, laço
A  lente-olhar, que se detém ao
Tanto de esturdície.
Vemos tudo e nada
Cansados do mormaço.

Tanto mar afundo há
Reinos, grupos e corais
Especies conhecidas e outras que nem pensais.

Mas quem  vê tudo  é a tartaruga:
Lá do fundo, sobe
E cá em cima, desce.
Assim, na calmaria,
aprecia cada madruga:
Acima e abaixo.
Dentro e fora.

Cotidiano n.2

Hoje sugiro esta linda composição, poética e musical, de Toquinho e Vinicius de Moraes que objetifica as inquietações do homem- comum frente ao cotidiano e ao almejo de um futuro esperançoso, de uma saída. Trata-se de uma parábola: Por mais que não tenhamos os desejos concretizados temos a nossa vida, própria, única e intransferível. O violão, neste caso, é uma metáfora de nós mesmos. Mensagem de esperança e humanidade.
Ontem, ao ler a noticia do exílio do deputado federal Jean Wyllys alegando ameaças à sua vida, ao seu corpo (e não venham alegar que foi autoexílio, tenham empatia pela dor e pela humanidade alheia!) me recordei desta musica e, ao apreciá-la com os olhos marejados, pensei no quanto urge a necessidade de lutarmos  para manter nossa preciosa identidade e o protagonismo de nossas próprias vidas.  Jamais pensei que, vivendo num pais "livre" e numa modernidade do século XXI tal preocupação me inquietaria. Claro que entendo que tais violências não são novidades, mas a incitação ao ódio e estigmatização que acomete nossa sociedade, muitas baseadas em notícias falsas, junto com um discurso de parte das pessoas que relativizam as mesmas, me assusta! A perseguição amedronta professores, políticos, artistas e qualquer pessoa que tende a ter um pensamento um tanto mais crítico, quem dirá progressista. Temos  medo da bala que tanto defendem que tenhamos em casa para "autodefesa" (sociedade BangBang). E medo também de ser quem se é, com tanta homofobia e muito sangue LGBTQ+ nos noticiários . Vá Jean, leve seu violão e não se cale: Componha novas lindas musicas e volte logo! 







Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa

Também não custa nada imaginar

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais
Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Composição: Toquinho / Vinícius de Moraes

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Homem-do-mato-sul.


Eu sou
O tal inflado.
Dourado pelo sol escaldado

Em plantas e venenos,
Exacerbado.
Sob  agro e culturas reflexas
Aspirando ao arrastado Texas

Country do céu azul
Do Mato, Grosso e do sul.


        Filme: Animal Político (2016). Direção: Tião.

Prelúdio.

Referenciando a saudosa Clarice: tudo no mundo começou com um sim! Pensando sobre os últimos tempos de minha breve vida notei, frente aos questionamentos da existência, a grande necessidade de formular ideias através das palavras. Observei que, intimamente, é preciso dar uma basta na minha desorganização e euforia destrutiva dizendo sim e canalizando tais energias na construção de algo maior, ainda em definição, mas que pretendo elaborá-lo no decorrer da juntada das palavras. Sou um jovem estudante de letras, latino americano,  aspirante a humano, sufocado pelo tecnicismo e em busca daquele belo e sublime misterioso, que tampouco eu sei defini-lo (melhor ler Kant). Com palavras enfatizo meus sentimentos, formulo melhor minha identidade, minhas ideias, meus planos, meus pontos de vistas, minha arte, minhas duvidas e meus problemas. Para um contexto social basta trocarmos na oração passada o pronome possessivo meu por nosso. Arte da palavra!  Feito estas considerações passo ao meu objetivo com isto aqui: Tratarei este blog como um relicário de ansiedades, inquietações e anseios que tanto me afligem e que agora tentarei esquematiza-los em orações numa tentativa de tirar aquele peso das costas: Quero dormir em paz! Assim, ansioso leitor, aqui verá de tudo: teorias que eu julgar importante compartilhar (com certeza com meus maus entendidos incluídos), notícias, críticas, sugestões, ARTE [cinema,  literatura, charges, musica, teatro, poesia (sobretudo e com algumas criações minhas)...] e assuntos que mergulham e atolam no pantanal da minha mente me deixando com aquela sensação de que algo deve ser feito, sobretudo neste tempo de tanto retrocesso. Talvez quando eu estiver com mais desenvoltura arrisque umas resenhas por aqui mas já aviso: A minha maior pretensão é comigo mesmo. Por fim se por uma aleatoriedade, caro leitor, caia neste site, por favor, peça licença e me perdoe pela bagunça. Sim!