quinta-feira, 12 de junho de 2025

Preposto

 Proponho: enfim, arrumaria meu apartamento.

Tão desorganizado por linhas secas, má limpeza e descaso.

Expulsaria todo o lixo eletrônico da área de trabalho do meu computador.

Finalmente, desarmaria o último capítulo daquele livro esquecido no espaço da não leitura.


Com tudo organizado, sairia para dar uma volta — sem propósito, sem direção.

Colocaria um fone de ouro, escolheria uma playlist conforme a ordenação do meu/deles algoritmo particular.

Cantaria ao som do ruído das araras, desta vez sem sentir vergonha de mim, nem dos transeuntes.

Não ligaria para eles, nem para mim.


Serei corpo, capim, na minha boca?

Vai doer?

Lá dói há tanto…


Voltaria para casa.

Cumprimentaria dona Marta e saudaria todos os vizinhos do caminho.

Subiria, nesse dia, pelas escadas — de dois em dois degraus, por quatro lances de quatorze degraus.


Já em casa, acenderia uma vela aromática.

Me ducharia com uma água morna, como se estivesse dentro de mamãe.

Por que saí?


Gosto de, em pé, me debruçar na cerâmica fria da parede, sentindo a água escorrer entre meus ombros e nuca, dissolvendo meu corpo através do decurso da minha coluna.


Já anoitece.

Desligo a água, visto um roupão e vou direto ao armário.

Ao fundo da terceira gaveta, há uma caixa de madeira onde guardo meus comprimidos:

analgésicos, antibióticos, antialérgicos, antidepressivos, anabolizantes…

Anti-tudo.


Tomo-os todos. Nem coube.


Deito na cama arrumado e cansado.

Adormeço.


Só me lembraria de vovó.

Do lírio cedendo à tarde.

E de um brejo na alma


quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Ofício autopessoal xx/xxxx

OFÍCIO Número (algarismos)/ Ano (Algarismos)/ EU

Localização geográfica, Dia (algarismos, de MÊS (por extenso) de Ano

AOS Senhores que se interessarem.

Caros Senhores,

Informo, da maneira que me restou, o cansaço que carrego.
Revelo o meu descontentamento com as atividades diárias. Eu me sinto cada vez mais desrespeitado, desvalorizado e desesperado. Quando tais sentimentos eclodiam por fatores externos, tal fato pouco me incomodava. Mas, recentemente, eu percebi que aquele mais desvaloriza, mais desrespeita e mais espera algo em relação a mim, sou eu mesmo. Eu-caçador, Eu-presa. 
A presa que não se preza. 
Mas quer se chamar de prezada. 
Que pressa para que a presa se preze.
Escolhi o ofício como canal de comunicação, devido ao ar profissional. Para ver se tal solicitação sirva como um lembrete, um convite á obrigação. Que seja um aviso de responsabilidade. Para comigo e para com vocês, caro senhores. Pois, com vocês satisfeitos comigo, talvez eu consiga olhar para mim e, quem sabe, reconhecer aquilo que brilha em seus olhares.

Desagradeço pela desatenção.

Não aguardo retorno.

(ESPAÇO DO SIGNATÁRIO)



quinta-feira, 24 de outubro de 2024

 SEJAESTEJABREJA

Café fé

Cerveja veja

Maconha conha

Álcool mal cool

Comida vida medida

Bebida saída extrovertida

Indo atrás da caída

Campool dos vizinhos

Vergomaconha

Capimbreja

Camefé

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

TEMPOS ATRÁS

 No canto do chão,

descansa o rapaz 

a sonhar tempo bom

que não volta mais.


Aquele refrão

de tempos atrás.

Mudou a canção,

já não toca mais 


Sem pranto no chão.

Descanse, rapaz.

Nada foi em vão,

não olhe pra trás.



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

EU COMI UM MIOJO: ESCRITA CRIATIVA

 Fui provocado por um ser iluminado a redigir um texto baseado na seguinte afirmação: EU COMI UM MIOJO.

Topei a brincadeira, e o resultado segue abaixo:

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

 SURREAL

As araras estão armando um enorme barraco. O surrealismo entrou na minha cabeça. Dia estressante. Sou desrespeitado ou uma vítima? Era apenas um adesivo, ou um novo espetáculo da mente deturpada de um ser que age à surdina. Sou uma pessoa indireta.  Se eu fosse um verbo transitivo, exigiria uma preposição. Mas a dor que me acometeu influiu em todas as minhas vísceras perpassadas e se manifestaram a mim através de uma palpitação no coração. Elas conseguiram derrubar uma imensa rama do coqueiro. Tal dor me dominou e passou, será que me dominará e também passará? Queria deixar de ser louco. Mais louco ainda é a minha mente, sigo tentando domá-la, segurá-la, mas até quando eu consigo? É estranho dizer A mente, quando, na verdade, se trata de um conjunto de fatores. A vergonha é um sentimento muito curioso. Caaaaaalaaaar, chegou.  Quê vou passar hoje? Os dias estão passando e passando e me passando. Até quando eu vou aguentar este caminho? Para onde me leva? Sinto falta de ter 18,17,16,15,14,13,12,11,10,9,8,7,6,5,4,3,2,1,0 e -1 anos. Há momento em que sinto ter conhecido coisas e as vivenciado, mas quando vejo a fundo percebo que ocorreram antes mesmo do meu nascimento. Eu estou bem avoado. Tem uma que está solitária, será que ela perdeu o par? Ela? Ele? Como as araras teorizam o gênero? Ah, verdade, elas são livres. O meu eu-agora não combina muito bem com os anteriores. Ele se transformou em uma versão mais autoritária, persuasiva, com verborragias que se esvaem ao ar, um confortável abandonado. Sabe quando o abandonado, ninguém abandonou? É assim que vejo os acontecimentos recentes deste cara, deste com t mesmo pois ele está aqui. Mas eu também o amo. Busco me analisar e aprecio o taramelar das araras, acabei de pesquisar essa palavra.  Minha mãe não sai do personagem mãe, como seria conhecer minha mãe sem ser mãe? Elas quietaram e estão comendo algo, não consigo enxergar direito o que é, a miopia me impede e  parece que ela está piorando. Mas vejo, de uma forma surrealista. O surrealismo foi uma das vanguardas europeias e bla bla bla blow. 343 é um número interessante, antes deste período era a quantidade de palavras que havia, me disse o trabalho. Já pensei em estudar escrita criativa, mas a minha criatividade está limitadíssima. Eu amo dormir e tenho dificuldade de me expressar. Parece que quando me vejo nas situações de comunicação, as palavras somem, minhas pernas tremem e eu fico apenas coadjuvando o monólogo do outro. O que será que pensam as araras? Seriam elas livres do pensamento? Da ... poxa a palavra fugiu. Corrigindo. Da, não adianta, perdi o fio da meada e vou parar por aqui. Se quiserem um conselho, vos digo: Observem mais as araras, é um privilégio enorme ter esse poder.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

 Aqui disse,

digo,

diz

Tagarelice

em código.


Muito velho

e antigo,

o tempo é juiz

e não é zarolho.


Tudo que se diz,

perigo,

Vale seu nariz,

sendo a boca, o inimigo

que tira-lhe o olho


Nem o verbo interdiz

aquilo que trazes consigo.

Como disse, digo, diz

na raíz não tem consolo.